sexta-feira, 11 de agosto de 2017

A revolta do meio

Já sabíamos. É preponderante usar a primeira pessoa no plural, sim, eu sei, mas é um compartilhamento que sinto necessidade de gritar. Como vocês não sabiam? Não estava nítido?
Com Aécio, o brasileiro rejeitou, em 2014, um Brasil que seria entregue à individualidade. Mas como o indivíduo alcança o mérito largando atrás? Vendo apenas (ou sequer) os rastros dos poderosos, a voltas à frente, deixados pelo caminho. Ouvindo o barulho do salto alto da média classe à sua frente que, por terem nascidos em uma equipe mais forte, pilotam carros mais potentes. O Brasil seria entregue a essa disputa desigual se 2014 tivesse terminado diferente.
Os pilotos dos carros mais potentes fizeram o Brasil ouvir o ronco de seus motores nos estádios. Eles estavam lá por que só eles tinham condições de estarem lá. Voltemos um pouco no tempo para entender essa revolta dos médios. Por que esse ódio?
Os governos comunistas do Petê proporcionaram aos bancos, durante suas gestões, lucros recordes à categoria. Ponto para a classe alta.
O Brasil chegou à sexta economia do mundo. Ultrapassamos o Reino Unido. Isso é PIB. PIB é dinheiro do empresariado, dos proprietários dos meios de produção. Ponto para a classe alta.
Programas de infraestrutura alavancaram obras de engenharia. Empreiteiras brasileiras protagonizaram anos de glórias, não só em território nacional, mas também em representações latinas e africanas, quando estávamos protagonizando junto aos BRICS um ensaio de nova ordem mundial. Ponto para a classe alta.
Na outra ponta, os pobres viram seus semelhantes entrando nas universidades. Institutos técnicos e universidades federais surgiram e ou foram ampliados aos montes. Mais vagas e políticas de cotas para tentar contrapor a corrida para com aqueles que largam atrás. Ponto para a classe baixa.
O rejeitado pela burguesia passou a ser disputado por ela. O pobre passou a integrar mercado consumidor, haja vista o incremento ou agora existência de sua renda em virtude de bolsas, que contemplam o programa de redistribuição de renda. Soma-se a isso os sucessivos aumento real do salário mínimo e aumento dos postos de trabalho, uma vez que a classe alta está em plena condição de contratar para produzir para o próprio pobre consumir. Ponto para a classe baixa.
Agora… e o meio? Pois é! O meio não se viu representado pelas gestões da estrela vermelha. Viu, pelo retrovisor, os pobretões se aproximando… e até uns a seu lado. Inadmissível, não!? Viu, à sua frente, apenas a sujeira no asfalto deixada pelos poderosos. Seu objetivo mais distante.
A classe média b(r)anca sua própria educação. Sua saúde. Tem acesso a lazer. Mas apesar de ter mais condição de ser culta e (bem) informada que a classe baixa, está condenada a sempre ser média. Prefiro acreditar que seja por opção, apesar de já ser uma contradição. Como pode tamanha ignorância que não permite saber que…
A classe média só será alta se deixar de ser piloto e passar a ser construtor.
O Petê produziu um Brasil estabelecendo uma bem sucedida relação entre proletário pobre e burguesia rica.. e mais rica.. e ainda mais rica. E isso porque é comunista. Kakaka. O meio da tabela, que no brasileirão não é G6 e nem Z4, costuma ficar esquecido. E ficou.
Sem representação, sem upgrade, o ronco dos motores soou forte. Muitas (e decepcionantes) vezes podendo esses sons ser traduzidos em insultos e expressões de preconceito. A rebelião das máquinas uniu-se à rebelião dos chefões, que em vista de um desastroso plano econômico no forçado quarto mandato petista, os poderosos viram seus resultados piorarem. Do meio pra cima, a crença era de que o impedimento tinha que ser marcado. O juiz tornou-se protagonista da partida. Uma onda amarela pressionou. Com o supremo e tudo, impedimento marcado. A disputa desigual que teria sido derrotada ao fim de 2014 começa ao fim de 2016.
Um Brasil com a cara da derrota, aquela vencida no ano da Copa, começa a ser praticado. O projeto é outro. E já sabíamos o que aconteceria em caso de marcação de impedimento. Dissemos: vão diminuir o Estado; vão tirar direitos; vão tratar nossas riquezas naturais como moeda em troca de qualquer coisa; vão entregar o Brasil para o estrangeiro; vão e vão e vão e foram. Dissemos e aconteceu. Como vocês não perceberam? Não estava óbvia a diferença de projeto de Brasil? Como negociar com gente do tipo que agora sabemos como são? Como se manter intacta junto a um mar de conspiração e ambiente corrompido? Até os do apito tem um time. Até os do apito. Ou ainda resta dúvida?
Se o chão está sujo, varre-se o chão. Não tira o piso.
Ver o fim da fome ao seu lado não é motivo para competição, mas sim para compaixão. Comemoração.
Muitas incertezas para o que nos espera a partir de 2019. 2018, nesse meu tempo de vida, é o ano mais temido pra mim. Tenho medo. Vejo um cenário, hoje, muito defeituoso. Temo sua expansão. Minha única esperança é que as pessoas estejam enxergando esse mesmo cenário com as lentes certas. Que percebam o quanto melhoramos (ainda que com ressalvas) nos últimos anos e estamos vendo tudo ir por água abaixo em poucos meses. Este projeto estará passando na tua TV em 2018. Rejeite-o. Rejeite, também, a ignorância, a brutalidade, a intolerância, o mau exemplo. Brasil não tem que ser Brazil. Nosso objetivo e nossos meios têm que ser melhor que isso.

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